greve dos caminhoneiros

Qualquer medida para conter a greve será paliativa

Deni Zolin


Foto: Renan Mattos (Diário)

Alguém acredita que o governo tomará alguma medida efetiva para resolver os problemas que levaram à greve dos caminhoneiros? Para mim, serão feitas medidas paliativas e temporárias, só para acalmar os ânimos. Essa tentativa de trégua de 15 dias, que acabou frustrada, é prova disso. Prometeu baixar apenas os impostos e os preços nas refinarias, mas temporariamente e só do óleo diesel - as medidas não vão se estender ao preço da gasolina, que é a chiadeira de grande parte da população. Além do mais, os caminhoneiros não ficaram satisfeitos com essas medidas. E o governo não vai resolver nada porque realmente não consegue, já que gasta demais.

Essa greve é reflexo de uma série de problemas históricos que acabaram se acumulando agora (leia mais ao lado e abaixo), com a crise chegando ao ápice devido à alta expressiva do diesel e à queda dos fretes devido à recessão na economia. O primeiro erro começou nos anos 1950 e 1960, com o fomento da indústria automobilística e dos caminhões, em detrimento das ferrovias. O desmantelamento das estradas de ferro nas décadas seguintes e a privatização da malha ferroviária, nos anos 1990, que não melhorou o serviço, deixaram o Brasil extremamente dependente das rodovias e dos caminhões - ao contrário de países desenvolvidos, que apostam em hidrovias e ferrovias, que são mais eficientes e baratas.

Outros erros que levaram a essa crise

Outro erro foi essa política agressiva de preços da Petrobras desde a entrada de Pedro Parente. A Petrobras está certa em parar que querem cobrir os furos do governo e vender gasolina abaixo do preço de mercado para maquiar a inflação, como fazia o governo Dilma, porém não poderia fazer esse reequilíbrio dos preços de forma tão agressiva. Se a Petrobras continuasse segurando preços pelo resto da vida, iria quebrar, pois aumentaria muito mais sua dívida e não conseguiria mais investir nem ser atrativa para investidores - até porque só 40% da companhia é pública, o resto é de acionistas privados, que aplicaram dinheiro que ajudou a Petrobras a crescer e, por isso, querem retorno do investimento, caso contrário, venderão as ações e a estatal perderá valor e poderá quebrar no futuro. E nessa mudança da política da Petrobras, é absurdo haver reajustes diários de preços, pois postos, motoristas, caminhoneiros e lojistas não conseguem saber qual o preço dos combustíveis e ter um mínimo de programação de seus custos. Se a mudança de preços for mensal ou quinzenal, facilitará a vida de todo mundo.

Outro grave problema que contribuiu para a greve é a altíssima carga tributária, que nunca baixa porque o Estado brasileiro é uma grande sanguessuga ineficiente, que chupa o dinheiro do povo por meio de impostos e, por isso, o preço da gasolina e do diesel é elevadíssimo (de cada tanque que enchemos, quase metade pagamos em impostos). Como o poder público gasta muito mais do que arrecada (o déficit federal é elevado, e o Estado nem consegue pagar salários em dia), não sobra margem para reduzir os impostos dos combustíveis e dos produtos, o que ajudaria a aquecer a economia. Ou seja, o governo não conseguirá tomar as medidas realmente necessárias, com corte pesado de impostos sobre combustíveis, porque gasta demais: além dos desvios de recursos, obras superfaturadas, auxílios-moradias de R$ 4 mil, excesso de CCs, salários de juízes bem acima do teto do STF, alguns serviços públicos ineficientes, parte dos servidores públicos que ganham mais do que o dobro da média salarial da iniciativa privada. Há também as aposentadorias precoces, tanto na iniciativa pública quanto na privada, e a grande sonegação fiscal. Todos esses problemas foram se somando e chegamos perto do fundo do poço.

Na verdade, o país todo deveria parar, nem que fosse por um dia, para dar um recado aos governantes e exigir mudanças. Há muita coisa a ser alterada, e muitos privilégios para cortar.


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